KAZE TACHINU ( O vento começa a soprar )
Matéria originalmente publicada por mim na coluna "Correspondentes Internacionais " do blog Sobre Livros (http://www.sobrelivros.com)
Minna san domo (olá pessoal).
É fato
que os animês e mangás japoneses se espalharam pelo mundo. No meu tempo de criança,
quando ainda morava no Brasil, entre as antigas séries televisivas e desenhos
animados, muitos deles, como: " Speed Racer", "A princesa e o Cavaleiro", "National Kid", "Ultra Seven", entre outros, eram produções japonesas. Apesar de
fazerem parte do nosso dia a dia, eram simplesmente desenhos animados ou
seriados; eram apenas mais uma opção entre os vários enlatados importados de outros países. Ainda, em se falando em mangá, andando pelo Bairro da Liberdade
em São Paulo, era possível encontra-los à venda, claro, os originais em
japonês. Hoje em dia é comum encontrar pelo mundo, inclusive no Brasil,
produções de desenhos animados e história em quadrinhos que adotaram
completamente o estilo característico dos mangás japoneses. Não se poderia
deixar de citar o Studio Ghibli, do Diretor Hayao Miyazaki, com suas
megaproduções, como tendo uma grande parcela na influência que o estilo causa
pelo mundo. No mês de julho, exatamente no dia 20, foi lançado aqui no Japão o
novo desenho animado dos Estúdios Ghibli, do diretor Hayao Miyazaki – Kaze tachinu (O Vento Começa a Soprar - Vidas ao Vento, no Brasil).
Poster de Kaze tachinu (leia-se "kaze tatinu")
Diferente
dos outros títulos de sucesso da Ghibli, que contam histórias fantásticas com
personagens imaginários, Kaze tachinu conta a biografia, mesmo que usando de ficção, do Engenheiro Jiro Horikoshi projetista do caça "A6M
ZERO", avião muito usado pelo Japão na Segunda Guerra Mundial. Por causa disso,
Hayao Miyazaki recebeu várias críticas de querer glorificar a participação do
Japão na Segunda Guerra, ao que o diretor respondeu que sua intenção era
apenas a de falar do homem que sonhava em criar belas máquina voadoras e que Horikoshi
não deveria ser condenado porque seu avião foi usado na guerra.
Jiro Horikoshi
Kaze tachinu, se inicia contando a história de um Jiro
Horikoshi ainda criança, sonhando em um dia voar pelos céus e de sua trajetória
indo estudar até na Alemanha e de trabalhar na MITSUBISHI onde pôde realizar
seu sonho de projetar um avião.
O
palco da história, é o Japão dos anos vinte, época de uma vida difícil para a
população japonesa; passando pelo grande terremoto de Kanto (região onde fica a
capital Tóquio) de 1923; pela recessão dos anos trinta e por fim, a Segunda
Guerra Mundial. E essa é outra grande diferença com os títulos anteriores lançados
pela Ghibli, um tema mais ligado a realidade, o que torna o filme mais próximo
do público adulto. Com certeza vai ser difícil manter o público infantil atento
e interessado a complexidade do tema abordado na obra.
Hayao Miyazaki
Segundo o próprio Diretor Hayao Miyazaki, essa foi
a primeira vez em que chorou ao ver um filme que ele mesmo produziu. Outra
curiosidade, é que Miyzaki escolheu para dar voz ao protagonista não um
profissional de dublagem, e sim o também diretor e produtor de animês Anno
Hideaki, um dos responsáveis pela série EVANGELION. E de acordo com alguns
comentários de pessoas que assistiram ao filme, como dublador, Hideaki é mesmo um
excelente diretor, pois, sua inexperiência com dublagem é perceptível em vários
trechos da película.
Hideaki Anno
Música Tema
A
música tema de Kaze tatinu é Hikoki Gumo (literalmente, o rastro que
o avião deixa em forma de fumaça = Rastro de avião) foi a música de lançamento
da cantora e compositora Yumi Matsutoya no anos 70, que na época aos 16 anos,
era ainda uma colegial e assinava com o nome de solteira, Yumi Arai.
Yumi Matsutoya (Yumi Arai)
Abaixo o trailer de Kaze tachinu com a música tema completa. Fiz uma tradução livre e
coloquei uma pronúncia em japonês aproximada de como é cantada.
Antes do início da música tem uma fala do
protagonista Jiro Horikoshi, e logo
ao final da música, uma fala de Naoko
Satomi, a heroína da trama. Abaixo, a tradução.
Antes do
Inicio da música: voz de Jiro Horikoshi
“Quem
é que já viu o vento?”
“Eu
e você também não conseguimos ver”
“Entretanto
quando as folhas tremulam, o vento passa por entre elas”
“Se
o vento faz as asas tremularem, então vai chegar até você”
Depois do
fim da música: voz de Naoko Satomi
(heroína do filme)
“Muito
obrigado, por sua ajuda no momento do terremoto”
“
Eu me chamo Naoko Satomi”
Hikouki Gumo – (Como) o rastro de
um avião ( a passar)
Shiroi
sakamichi ga, sora made tsuzuiteita
Havia
uma subida toda branca, que se ligava ao céu
Yura yura
kagerou ga, ano ko wo tsutsumu
E
calor do sol que emanava nessa estrada, envolvia aquela menina
Daremo kizukazu
tada hitori
Sem
que ninguém percebesse, sozinha
Ano ko wa
nobotteiku
Aquela
garota ia subindo,
Nanimo
ossorenai, soshite mai agaru
Sem
nada a temer e assim ela subia
Sora ni
akogarete, sora wo kaketeiku
Ela
desejava o céu, ela buscava o céu
Ano ko no
inoti wa hikouki gumo
A
vida daquela garota era como o rastro de um avião a passar
Takai ano
mado de, ano ko wa shinu mae mo
Daquela
janela alta, aquela garota antes de morrer
Sora wo
miteita no, ima wa wakaranai
Também
olhou o céu, e agora não dá para entender
Hoka no
hito ni wa wakaranai
As
outras pessoas não conseguem entender
Amari nimo
wakasugita to, tada omou dake
Acham
apenas que ela era muito jovem
Keredo
shiawase
Entretanto,
era feliz
Sora ni
akogarete, sora wo kaketeiku
Ela
desejava o céu, ela buscava o céu
Ano ko no
inoti wa hikouki gumo
A vida daquela garota era como o rastro de um avião que passa
Apesar das
mudanças em relação aos filmes anteriores, e das críticas sobre o objetivo de
se fazer um filme que enaltece o sonho de um homem que no final foi usado como
uma máquina de extermínio responsável por ceifar um incontável número de vidas
humanas numa guerra fria e sem escrúpulos. Kaze tachinu, pode ser visto também por um outro lado, como disseram na
coletiva a cantora Yumi Matsutoya e o próprio Miyazaki que, "Gostariam que esse
filme fosse assistido por todos os japoneses sem exceção, pois, ele trás a mensagem de se poder ultrapassar as dificuldades e nunca desistir
de um sonho".
E afinal, não importando o que se faça, sempre vão existir vozes para elogiar ou criticar. E por isso mesmo, Kaze tachinu pode
ser apenas uma linda história inocente com um romance que comove a plateia.
Assim como, os Estúdios Ghibli e Hayao Mizaki quiseram apenas mostrar o outro
lado de uma história que também tem sua parte inglória. E Jiro Horikoshi, pode ter sido apenas um
sonhador que viu o objeto de seus sonhos transformado num instrumento mortal.
Por outro lado, não se pode tirar completamente a razão de quem reclama sobre a
ambiguidade que o filme possa ter, pois afinal, Quando o Vento Começa a Soprar, poderia passar a ideia que esse fosse um Vento Divino (Kamikaze) e
facilmente o título poderia ser transmutado para Kamikaze tachinu (Quando sopra o Vento Divino). Assistam ao filme e
tirem vocês mesmos suas próprias conclusões.
Bom pessoal,
vou ficando por aqui. Espero que tenham gostado da matéria de hoje, aguardo por
vocês na próxima.
Um, grande
abraço.
Soredewa
mattané (então até a próxima)